Esquecimento: Até quando é normal?

Baseado no livro “A Arte de Esquecer”, do Prof. Ivan Izquierdo

Esquecer é algo que acontece com todos nós — mas você já parou para pensar por que esquecemos? Para o neurocientista Ivan Izquierdo, um dos maiores nomes da neurociência da memória no Brasil, “esquecer é parte do lembrar”. Parece contraditório, mas faz todo sentido: nosso cérebro precisa selecionar o que vale a pena ser lembrado. Se registrássemos tudo, a sobrecarga seria insuportável. O esquecimento, na verdade, é uma estratégia do cérebro para organizar a mente e preservar o que é essencial.

🧠 Como funciona a memória?

Izquierdo descreve diferentes tipos de memória que se formam e se perdem em ritmos distintos. A seguir, alguns deles:

• Memória de Curto Prazo: guarda informações por segundos ou minutos. Exemplo: lembrar onde deixou a chave ou o que foi buscar no outro cômodo. Muito sensível à distração.

• Memória de Longo Prazo: armazena informações por dias, anos ou toda a vida. Inclui memórias conscientes (como uma festa de aniversário) e inconscientes (como dirigir).

• Memória Emocional: vivências marcadas por emoções tendem a ser mais facilmente gravadas e lembradas. Emoção e atenção são grandes aliados da memória.
 
• Memória de Trabalho: é a “memória ativa”, usada para raciocinar, tomar decisões ou resolver problemas no momento.
 
É possível esquecer em qualquer uma dessas etapas. Às vezes é apenas desatenção ou cansaço; outras vezes, o cérebro realmente “limpa” aquilo que considera irrelevante.

✅ Quando o esquecimento é normal?

Alguns esquecimentos são esperados e fazem parte da vida cotidiana, como:
 
• Esquecer onde deixou objetos e lembrar logo depois;
 
• Trocar o nome de alguém recém-conhecido;
 
• Esquecer um compromisso não anotado;
 
• Deixar de comprar algo no mercado.
 
Esses episódios costumam ocorrer em situações de estresse, sobrecarga, privação de sono ou até por condições clínicas reversíveis, como anemia, alterações da tireoide ou carência de vitaminas.

📖 Como diz Izquierdo: “Esquecer o que não importa é parte de lembrar o que realmente importa.”

🚨 Quando o esquecimento é sinal de alerta?

Alguns sinais indicam que está na hora de procurar um neurologista:
 
• Repetição constante das mesmas perguntas;
 
• Perda frequente de objetos importantes;
 
• Dificuldade para manter rotinas simples;
 
• Troca de palavras ou esquecimento de nomes familiares;
 
• Desorientação em locais conhecidos.

Outros relatos comuns de familiares incluem:

💬 “Ela começou a repetir a mesma história várias vezes por dia.”
🚪 “Ele se perdeu voltando do mercado onde vai há anos.”
🍽️ “Esquece de comer ou toma os remédios duas vezes.”
😔 “Tem mudado de humor, está mais irritado ou apático.”

Esses comportamentos não são parte natural do envelhecimento. São sinais de que algo mais sério pode estar ocorrendo — e merecem avaliação médica.

💛 Cuidar é um ato de amor

Esquecimentos leves podem passar despercebidos no início, mas com o tempo comprometem a autonomia, a convivência e até a dignidade da pessoa. Segundo Izquierdo, a memória é o que sustenta nossa identidade — por isso, cuidar dela é cuidar de quem a pessoa é. O diagnóstico precoce ajuda a preservar a qualidade de vida, planejar o futuro com mais segurança e fortalecer os vínculos familiares.

Se você ou alguém próximo tem apresentado sinais de esquecimento persistente, procure um neurologista. Observar, acolher e buscar ajuda são formas de demonstrar amor e respeito.

Referência principal:
 
Izquierdo, I. A Arte de Esquecer. Editora Artmed, 2004.
 
Outras fontes complementares:
 
• Budson, A. E., & Solomon, P. R. Memory Loss, Alzheimer’s Disease, and Dementia: A Practical Guide for Clinicians. Elsevier, 2016.
 
• Squire, L. R., & Kandel, E. R. Memory: From Mind to Molecules. W.H. Freeman, 2009.

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