Espasmos no rosto ou nos braços, desmaio ou convulsão? Pode ser Epilepsia!

O que é epilepsia e por que acontecem crises?

Você sabia que as convulsões — ou crises epilépticas — são mais comuns do que muita gente imagina, e que chegam a ser confundidas com desmaio ou “apagões”? No Brasil, estima-se que cerca de 1% da população conviva com epilepsia, o que corresponde a mais de 2 milhões de pessoas ou 10 a cada 1.000 pessoas. 

A prevalência é especialmente elevada em duas faixas etárias: crianças abaixo dos 5 anos e idosos acima dos 65 anos, refletindo causas relacionadas ao desenvolvimento cerebral e a lesões cerebrais adquiridas na vida adulta.

 

O que acontece durante uma crise epiléptica?

Vamos imaginar que o cérebro funcione como uma grande cidade cheia de fios elétricos invisíveis, por onde circulam mensagens entre bilhões de “moradores” — que são os neurônios.
Essas mensagens viajam na forma de impulsos elétricos, de maneira organizada e coordenada, como se fosse o tráfego de carros numa cidade bem planejada: cada sinal sabe para onde vai, com o tempo certo e a intensidade adequada.

Uma crise epiléptica acontece quando, por algum motivo, uma parte do cérebro — ou todo ele — começa a emitir sinais elétricos de forma descontrolada, como se vários semáforos queimassem ao mesmo tempo e todos os carros avançassem sem ordem.
Isso gera uma “tempestade elétrica” que pode interromper temporariamente o funcionamento normal daquelas áreas do cérebro, causando sintomas que variam de pessoa para pessoa.

A origem dessas descargas anormais pode estar em diversas causas, como:

  • Cicatrizes ou lesões no cérebro (por traumatismos, AVC, infecções, tumores, malformações congênitas);

  • Alterações na química cerebral, como desequilíbrios nos neurotransmissores — substâncias que regulam a atividade elétrica dos neurônios;

  • Doenças genéticas que afetam o funcionamento dos canais iônicos, que são como “portas” que controlam a entrada e saída de moléculas eletrificadas nos neurônios.

Em condições normais, há um equilíbrio entre estímulo e inibição no cérebro: alguns neurônios funcionam como “aceleradores”, outros como “freios”.
Quando esse equilíbrio se perde — por um defeito estrutural, químico ou elétrico — os sinais de “acelerar” se sobrepõem, e a rede neuronal entra em curto-circuito, produzindo a crise.

Dependendo da parte do cérebro afetada, a pessoa pode apresentar movimentos involuntários, alteração da consciência, sensações estranhas, mudanças de comportamento ou combinações desses sintomas, o que chamamos de crise focal.
Se a descarga começa em todo o cérebro ao mesmo tempo (crise generalizada), pode ocorrer a convulsão clássica, com perda de consciência, rigidez e abalos musculares. 

Quais são os tipos de crise:

  • Convulsão: a crise generalizada tônico-clônica, conhecida popularmente como “convulsão”, costuma começar com uma súbita perda da consciência, podendo ter a emissão de um som agudo chamado de grito epiléptico, seguida da contração intensa de todo o corpo (fase tônica) que gerará uma queda ao solo durando alguns segundos. Depois vem a fase clônica, marcada por sacudidas ritmadas dos braços e das pernas, ruídos respiratórios, salivação intensa, fechamento da mandíbula, manutenção dos olhos abertos e virados para cima ou para o lado e eventual perda urinária ou intestinal. Após o episódio, geralmente há um período de confusão mental, sono profundo ou sensação de exaustão, que pode durar minutos ou até horas, em média 20 a 30 minutos.

Há alguma manifestações mais discretas ou surpreendentes que podem também ter origem epiléptica, como:

  • Crise de ausência: pequena “parada” no comportamento, com olhar distante ou fixo, muitas vezes breve e imperceptível, associada a movimentos automáticos de boca e mandíbula como se estivesse mastigando ou até pequenos espasmo nas pálpebras.

  • Crise focal: pode iniciar com sensações como déjà-vu, cheiro estranho, mal-estar gástrico, automatismos como mastigar, esfregar as mãos ou gestos repetitivos ou iniciar com espasmos, tremores, movimentos repetitivos de face ou membros de um lado do corpo. Esses eventos podem ser seguidos de um período de confusão mental ou ficar “aéreo”, lentificado.

Essas manifestações podem ser confundidas com desmaio, apagão, lapso memória, desatenção, ansiedade ou mudanças de humor — por isso é tão importante a avaliação do neurologista para fazer esta diferenciação.

Como investigar?

Para identificar se o evento foi uma crise epiléptica e avaliar o tipo de crise, o relato detalhado do paciente é fundamental, o que sentiu antes ou durante o ocorrido, se perdeu a consciência ou não, caso não se recorde ou tenha tido um “apagão”, o relato de alguém presenciou ou um até um vídeo do episódios pode ser fundamental para o diagnostico! A escuta ativa e especializada do neurologista é crucial para correto entendimento do problema. Além disso podem ser necessário alguns exames:

  • Eletroencefalograma (EEG), para registrar a atividade elétrica do cérebro.

  • Exames de imagem cerebral (ressonância magnética ou tomografia), que ajudam a identificar lesões estruturais ou alterações que possam desencadear crises.

Esses exames são fundamentais para guiar o tratamento de forma segura e personalizada.

Por que entender isso importa?

Epilepsia é uma condição tratável, e muitas vezes controlável com apenas um medicamento adequado. Conhecer os sinais, distinguir convulsão de desmaio, e buscar avaliação médica com exames corretos pode fazer toda a diferença para garantir segurança, autonomia e qualidade de vida.

Referências

  1. Ministério da Saúde – Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Epilepsia. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude

  2. Sander JW, Shorvon SD. Epidemiology of the epilepsies. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry. 1996;61(5):433-443. doi:10.1136/jnnp.61.5.433

  3. Fiest KM, Sauro KM, Wiebe S, et al. Prevalence and incidence of epilepsy: A systematic review and meta-analysis of international studies. Neurology. 2017;88(3):296-303. doi:10.1212/WNL.0000000000003509

  4. Borges MA, Min LL, Guerreiro CA, et al. Prevalence of epilepsy: the Sao Paulo Epidemiologic Study. Epilepsia. 2004;45(12): 1613–1620. doi:10.1111/j.0013-9580.2004.17504.x

  5. Fisher RS, Cross JH, French JA, et al. ILAE classification of seizures: Overview of revised 2017 classification. Epilepsia. 2017;58(4):522–530. doi:10.1111/epi.13671

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